Ana Paula Chuva e Caroline Carvalho (Mídia Max)
05/06/2016
Em tempos de crise sobreviver com negócio próprio e com produtos a baixo custo para o consumidor tem exigido dos donos das chiparias de R$ 1 o malabarismo entre aumentar o valor ou diminuir a qualidade do produto. Pesquisas de preço, redução de mão de obra, diminuição de gastos fixos como aluguel tem sido a saída para quem quer manter o sonho de ser dono do próprio comércio.
Há mais ou menos 5 meses a gestora pública Maricleia Martins e o filho Alex Martins, de 23 anos, resolveram, apesar da crise já instalada no país, investir no comércio de chipas a R$ 1, uma febre na cidade.
Maricleia afirma que não pretende voltar ao trabalho ‘formal’ pois acha que o cenário não favorece, mas confessa que empreender é muito difícil. “Para manter o negócio precisamos fazer muita pesquisa no preço da matéria-prima e a venda de outros produtos ajuda também. Escolhi um ponto também que não favorece muito, achei que teríamos um grande movimento, mas estava errada”, afirma.
Aumentar o preço e não reduzir a qualidade foi a opção de Cleverson Kruki, 33 anos. Ele abriu a lanchonete com salgados a R$ 1, em agosto de 2015, na Vila Margarida, e na virada do ano resolveu ampliar o prédio e então decidiu subir o preço para R$ 1,25. Mas não demorou muito voltaram para o preço inicial. “Percebi que não é o valor final do produto que afetava meu rendimento mas o meu custo fixo, despesas com aluguel, energia, funcionários”, afirma.
Cleverson conta que no começo eram 5 funcionários e hoje trabalha apenas com a família e mais duas funcionárias. “Eu sei que contribui para a crise, dispensei 5 pessoas que precisavam do trabalho, mas ou você volta de onde começou ou você se perde. Vou até devolver um dos prédios, isso vai amenizar o custo fixo”, disse.
Há uma semana ele voltou para R$ 1,25 o preço dos salgados, e segundo ele não perdeu nem 10% dos clientes. “Se você mantém a qualidade a variação no preço não afeta tanto a procura, eu perdi aquele cliente que vinha e comprava de 30, 40 unidades, mas isso não representa nem 10% do meu ganho”, conclui.
Tudo mais caro
Para o presidente do Sindepan (Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria de MS), o que aconteceu foi que houve um aumento geral nos insumos, desde embalagens até os materiais usados na confeitaria, como trigo, açúcar e ovos. “No geral mais o aumento foi de 10 a 13% no custo da matéria-prima, e alguns estabelecimentos estão repassando aos poucos, não podem subir os preços de uma vez pois correm o risco de perder os clientes”, conta Marcelo Alves Barbosa, 50 anos.
Ele ainda brinca dizendo “brasileiro é teimoso, vamos ver até quando a gente aguenta. No começo é sempre difícil, mas acabamos achando uma maneira de sobreviver. Diminui despesas, corta o que puder cortar, controla as perdas e vai se virando”.
Pioneiro
Há 17 anos no mercado, 16 vendendo chipa a R$ 1, o empresário Edson Garcia Monte Serrate, 32 anos,conta que no começo eles trabalhavam com caldo de cana, mas no período de inverno percebeu que a demanda diminuía, então veio a ideia de associar dois produtos “Eu acabei forçando o cliente que tomava caldo de cana a experimentar a chipa”. A chiparia, que fica no bairro Tiradentes, atende públicos de todas as regiões e Edson atribui o sucesso a essa combinação. “Com o tempo a combinação foi ganhando público e o número de clientes crescendo”, afirma.
O empresário conta que tiveram vários problemas para se manter, mas não acredita que foram suficientes para desistir. “Nesse tempo de crise estamos economizando e procurando fornecedores mais baratos, diminuímos o pró-labore da empresa para não precisar demitir os funcionários e nem aumentar os preços. A chipa já é uma tradição em Campo Grande”, conclui.