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Setor espera redução na área de plantio do Brasil, dependência do mercado externo aumenta e preços do produto final devem subir nos próximos 60 dias

por Nayara Figueiredo (DCI)

09/03/2015

Com o acréscimo nas tarifas de energia, no frete e a perspectiva de redução na área de plantio, os custos da indústria subiram mais de 40% e devem ser repassados. “Pode esperar aumento de 25% na farinha entre os próximos 30 e 60 dias”, diz o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.

O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma produção de 5,9 milhões de toneladas para o cereal neste ano, 6,8% superior ao volume da última safra. Entretanto, representantes do setor ouvidos pelo DCI projetam uma diminuição de pelo menos 2% na área plantada no Paraná, maior estado produtor da cultura.

Dificuldades

“Já tem pouco trigo no Paraná, diante de uma demanda em torno de oito milhões de toneladas, o produto gaúcho não tem a mesma qualidade e, além disso, os produtores estão focados no andamento da safra de soja e milho, restringindo a comercialização do cereal”, explica o executivo. Neste contexto, Pih conta que não há outra alternativa para os moinhos além de acessar o mercado internacional para importações, agora oneradas pela alta do dólar e a Argentina segue como a principal fornecedora.

Lá fora, a expectativa de aumento de juros pelo Federal Reserve, o banco central norte-americano, tem sustentado a moeda em patamares elevados, fato que, segundo Pih, tem mantido em queda os preços das commodities. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o trigo encerrou a última quinta-feira (5) aos US$ 193,01 por tonelada, contra US$ 330,62 no mesmo período do ano passado.

Do lado das exportações, o chefe da divisão de estatísticas e agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná, Carlos Hugo Godinho, lembra que os embarques do trigo nacional estão atrelados à produção de menor qualidade, como o gaúcho, geralmente enviados para países africanos e do Oriente Médio.

No mercado doméstico, os pesquisadores do Cepea ainda destacam que, com a paralisação dos caminhoneiros em parte das estradas brasileiras, muitos moinhos, principalmente da Região Sul, tiveram grande dificuldade no recebimento da matéria-prima. O ritmo de moagem e, consequentemente, a comercialização do cereal e derivados foram bastante reduzidos nos últimos dias.

Produção

No Paraná, diferentemente da projeção oficial da Conab, de 3,7 milhões de toneladas, Godinho acredita que seja possível atingir 4,1 milhões. Ele afirma que como a janela de plantio, que começa nas próximas semanas, é longa, é difícil não contar com um percentual de quebra, mas este ainda não foi definido para a temporada de 2014/2015. A intensidade de chuvas e o clima também são determinantes para os resultados finais. Mesmo assim, o volume estimado pelo Deral é um recorde para a região.

No Rio Grande do Sul, segundo maior estado produtor, o plantio tem início um pouco mais tarde, em meados de maio, e o desenvolvimento da lavoura ainda depende das ferramentas do governo federal que serão disponibilizadas à cadeia produtiva.

“Tivemos uma reunião na Câmara Setorial ontem [quinta-feira, 5] e o governo ainda não se posicionou. Com isso, a tendência é de redução de área plantada neste ano”, diz o presidente da comissão de trigo da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim.

Dentre os principais pleitos estão o aumento nos preços mínimos em vigor e os mecanismos de apoio à comercialização. De acordo com Jardim, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, estará no Rio Grande do Sul nesta semana para a feira Expodireto e deve ouvir novamente o setor produtivo.