Anderson Oliveira (Jornal Cruzeiro do Sul)
08/07/2016
Ficou para trás o tempo em que se ia à padaria apenas para comprar pão. Não que o principal item do café da manhã tenha sido substituído ou perdido espaço na mesa. É que as padarias agora não só oferecem o pãozinho e o café, mas também o almoço, o jantar, os lanches e sucos para as reuniões, as bebidas e petiscos para o happy hour, entre vários outros itens de alimentação. Nos últimos anos, para não perder mercado, muitas empresas desse segmento se diversificaram e buscaram outras formas de atrair a clientela. Tudo isso aconteceu, contudo, sem que se deixasse de lado a relação de proximidade entre o padeiro e o freguês.
A necessidade de crescer e vencer a crise econômica é o que motiva cada vez mais o setor a buscar a diversificação, atendendo o público de diferentes maneiras. Essa é a análise de Paulo Baccelli, presidente do Sindicato das Empresas de Panificação de Sorocaba e Região (Sipans), que lembra que neste 8 de julho se comemora o Dia do Panificador. Graças a essa mudança, ele acrescenta, as padarias têm conseguido se manter. “Mesmo com custos altos, como energia, farinha de trigo, embalagens”, comenta.
Segundo Baccelli, o segmento vinha em uma trajetória de crescimento nos últimos anos. Era cada vez maior o número de padarias abertas e de ampliação daquelas já existentes. Ele cita o caso da Padaria Real, que se tornou uma das maiores empresas desse segmento na América Latina. Com os problemas na economia brasileira, entretanto, isso tem mudado e segurado novos investimentos, observa o presidente do sindicato.
Ainda assim, a diversificação tem ajudado a manter o nível de emprego. “Quem está mantendo o emprego ainda são as padarias”, avalia Paulo Baccelli, observando que o volume de contratações, no entanto, diminuiu.
Calor humano
A diversificação nos produtos e serviços das padarias, por outro lado, não tiram dela uma das características principais, afirma Baccelli. Em um momento em que as relações entre quem vende e quem compra se tornam cada vez mais distantes, o calor humano se torna o principal produto disponível nesse segmento. “A padaria ainda é o lugar onde você é chamado pelo nome, algo que está acabando”, ressalta.
É tanto assim que Maria Sabina Martin, da Padaria Sabina, nem acredita que tenha clientes. “É uma coisa muito boa e que ainda me segura trabalhando: não tenho freguês, tenho amigos”, considera. A relação, segundo ela, é construída pelo tempo e não se perdeu mesmo com as mudanças ocorridas. “A padaria vai ser sempre um ponto de encontro, local de trabalho, onde as pessoas se reúnem”, comenta.
O mesmo avalia Francisco Constantino Padrão, da Padaria Nova Padrão. Ele já se acostumou à presença constante de amigos que se unem para comer, beber e bater papo. Ou mesmo de profissionais liberais que vão lá para almoçar e tratar de negócios. “Sempre tem uma turma, que vem, bate papo, outros marcam encontro aqui, reunião, vendem terreno”, comenta.
Não fossem as mudanças adotadas para trazer mais clientes, como a oferta de almoço, as portas já teriam sido fechadas, acredita Padrão. “A gente tem que se virar, procurar colocar bastante opção, senão fecha”, afirma o comerciante. A crise econômica, contudo, segurou novos investimentos. “Não tem como colocar mais, porque está tudo parado”, desabafa.
Lugar para fechar negócios
“A padaria hoje é um lugar em que você pode chegar de manhã, tomar café e só ir embora à noite, depois de jantar”. O resumo feito pelo empresário Fernando Rodrigues, que mora em Jundiaí e vem a Sorocaba a trabalho, simboliza o que a padaria se tornou nos últimos tempos. Um lugar que concentra tudo o que é necessário para quem trabalha ou busca se divertir.
Segundo ele, há alguns anos esse segmento tem ofertado toda essa variedade que os consumidores precisam. “É um ambiente que você pode tomar café, fazer reuniões”, aponta. Para ele, que vem para a cidade a trabalho, a padaria é ideal para não ter de se locomover muito. “Nem preciso sair daqui”, ressalta.
O ponto de encontro vale tanto para famílias e amigos quanto para vendedores e clientes. As corretoras de imóveis Geovani Teixeira de Almeida e Katiucia Tavares costumam ir à padaria com a família tomar café no fim de semana. Mas é durante os dias úteis que o lugar serve para trabalho.
Elas afirmam que já fecharam muitos negócios em reuniões feitas em padarias. O cafézinho e o lanche — ou até mesmo o almoço — ajuda a convencer os clientes a fechar negócio. “É uma referência também, marcamos com clientes e a gente se encontra aqui”, afirmam as corretoras.
Dez mil pães serão distribuidos
Pelo menos 10 mil pães devem ser distribuídos hoje à noite, após a missa na Catedral Metropolitana, em homenagem ao Dia do Panificador. O evento ocorre anualmente e reúne diversas padarias da cidade, que oferecem pão gratuitamente para a celebração.
De acordo com Paulo Baccelli, presidente do Sindicato das Empresas de Panificação de Sorocaba e Região (Sipans), o Dia do Panificador é comemorado há 25 anos. “É muito legal, porque vai gente de toda a cidade, de toda a religião, que leva seu pãozinho pela tradição”, conta. Segundo ele, são entregues em torno de 10 mil pães, mas poderiam ser mais se houvesse necessidade.
A distribuição é feita para todos os que estiverem presentes. “E tem as pessoas carentes que vão para comer ali mesmo”, conta. Baccelli destaca que o pão está presente no dia a dia da população e reflete a necessidade de se compartilhar. “O padre sempre fala: pega meia dúzia, fica com um para você e distribua o resto. É o pão nosso, que está presente na maior das orações, que é o Pai Nosso”, observa o presidente do Sipans.