por Vinícius Pereira (Folha de São Paulo)
24/03/2015
O pãozinho de todas as manhãs deverá ficar mais salgado no mês que vem. O preço do pão deverá subir até 12% em abril no país, de acordo com entidades que representam os fabricantes do setor, em razão das recentes altas do dólar e da energia elétrica.
Nos últimos 12 meses, o pão subiu 5,40%, de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial. Apenas em fevereiro, a alta foi de 1,23%.
O dólar cotado acima dos R$ 3 -moeda base para a compra do trigo importado- e o aumento nas tarifas de energia elétrica forçam o custo da indústria, que logo deverá repassar o aumento ao consumidor, afirmam fabricantes.
“A energia elétrica representa cerca de 14% do custo da fabricação de pães e a farinha de trigo, 33%. O preço final pode ter um aumento em torno de 8% a 12%, deixando claro que cada empresa tem a sua planilha e a decisão de como lidar com o aumento na produção”, afirma José Batista de Oliveira, presidente da Abip (Associação Brasileira da Indústria de Panificação e Confeitaria) -que representa os fabricantes do pão francês.
Para Oliveira, cada padaria ou supermercado deverá estudar o preço para continuar competitivo e não diminuir a participação do consumo do pão no país. “Quando você aumenta o preço, naturalmente, você inibe o consumo. O nosso aconselhamento, como entidade, é que a empresa faça o máximo possível para transferir o mínimo para o consumidor final”, diz.
Os produtores de pães industrializados também já calculam os custos e o quanto deverá ser repassado ao varejista. Os pães que passam pela indústria chegam a 10% do consumo total, de acordo com a Abimapi (Associação Brasileira de Indústrias de Biscoito, Massas, Pães e Bolos industrializados).
A entidade que representa o setor afirma que o aumento para este tipo de pão, que inclui o pão de forma, dependerá da estratégia de cada empresa produtora, mas, em média, deverá ser de 8%.
De acordo com Cláudio Zanão, presidente-executivo da Abimapi, o preço do trigo, que tem a metade da demanda importada da Argentina, Paraguai e Uruguai, e os varejistas deverão controlar quando o aumento deverá chegar ao consumidor final. “Se ele [o varejista] tiver estoque de produtos fabricados, ele pode segurar esse aumento. A indústria segue o mesmo raciocínio; caso ela tenho a farinha estocada, ela pode deixar o aumento um pouco para depois”, afirma Zanão.
O aumento de preço do produto, consumido todos os dias por milhares de brasileiros, poderá pesar no orçamento do final do mês. Porém, de acordo com especialistas, há meios de se proteger.
O educador financeiro Silvio Bianchi afirma que o aumento dos pães é só o primeiro das possíveis altas nos alimentos este ano. Segundo ele, em um momento de contenção de despesas, o importante é o controle, já que cerca de 20% do consumo são desperdiçados. “O importante é sempre ter o controle daquilo que você deseja comprar. Antes de comprar, pense em quantos pães você precisa levar. Coloque se é necessário aquela quantia, para não ficar sobrando no armário aquele pão que ninguém come”, afirma Bianchi.
Já para o consultor em finanças pessoais Mauro Calil, o consumidor brasileiro pode trocar hábitos para se proteger dos impactos da inflação. “Caso o preço suba, as pessoas podem abandonar produtos derivados de trigo, como o pão e o macarrão, e buscar alternativas para esse consumo, algo feito com a farinha de mandioca ou de milho”, acrescenta Calil.