por Tatiane Bortolozi (Valor Econômico)
27/04/2015
O pãozinho francês saído do forno é o mais querido do brasileiro, mas os pães industrializados estão ganhando espaço com a redução da ida do consumidor aos pontos de venda e o aumento de preço do trigo. A categoria especial, que inclui grãos integrais ou ingredientes como fibras e vitaminas, é a de mais rápida expansão no país. O Nordeste é a região em que o consumo mais cresce, mas no Rio está a maior fatia de consumidores.
A indústria de pães industrializados movimentou R$ 2,62 bilhões em 2014, alta de 26% sobre o ano anterior. O volume produzido cresceu 12%, para 276 mil toneladas. As receitas com as vendas de pão fresco somaram R$ 13,7 bilhões, alta de 8%, enquanto o volume de 2,9 milhões de toneladas recuou 8% ante 2013. Os números são da empresa de pesquisa de mercado Kantar WorldPanel.
“Enquanto o pão industrializado cresce em volume e em valor, o consumo de pão fresco diminui devido ao aumento de preço a farinha de trigo, cotada em dólar, está mais cara e à redução da visita do consumidor às padarias”, diz Carolina Andrade, executiva de marketing da Kantar WorlPanel.
O preço médio do quilo de pão industrializado (R$ 9,71) é quase o dobro do artesanal (R$ 4,81), mas teve variação mais amena em 2014, de 12,4% contra 17%, respectivamente. A frequência de compra do alimento embalado subiu 4,2%, enquanto a de pães artesanais caiu 14,6%.
A maior parte dos lares continua consumindo os dois tipos, mas cada vez menos pessoas vão diariamente à padaria. Com isso, a categoria de pães industrializados cresce. “É prático, conveniente e complementar”, diz Claudio Zanão, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos Industrializados (Abimapi).
O pão artesanal está presente em 95% dos lares, mas vem perdendo espaço pelo menos desde 2011. O industrializado está em 76% das mesas brasileiras ganhou cinco pontos de participação de mercado em três anos. “O consumidor está fazendo escolhas, colocando no carrinho o produto de melhor preço, com maior durabilidade e que mais contribua para a saúde”, diz Carolina. Em participação de mercado, o leste e o interior do Rio de Janeiro são líderes em consumo de pão industrializado, mas é no Nordeste que as vendas mais cresceram no ano passado, puxadas principalmente pela marca Plus Vita, de pães especiais do grupo mexicano Bimbo.
“Nos últimos anos, os pães especiais registram o maior crescimento da categoria”, diz Alejandro Hernandez, diretor de marketing da Bimbo do Brasil. “Esses produtos destacam o conceito de saúde e bemestar, e a adição de grãos é uma tendência no mercado.” A empresa é dona das marcas Pullman, Plus Vita e Nutrella e projeta crescimento de dois dígitos neste ano, sendo seu maior investimento destinado à chegada da marca Pullman ao Rio Grande do Sul e à Santa Catarina. A fábrica de Gravataí (RS) foi reestruturada para o projeto, mas sem mudanças no número de funcionários, diz a empresa. Ao todo, são sete unidades no país, em São Paulo, Rio, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal.
O pão branco ainda é o mais consumido em volume, mas o especial, cujo consumo cresceu 28% no ano passado, é o grande destaque. “O pão com grãos abriu um nova perspectiva de mercado. São novos nichos para as empresas, que podem cobrar mais caro por um volume pequeno porque o benefício nutricional agrada o consumidor”, afirma Zanão.
As redes de supermercados foram o principal canal de venda de pães industrializados em 2014, com participação de 68,3%, seguidas pelo varejo tradicional (22,2%), os atacadistas (5,5%) e demais estabelecimentos (4%), informa a Kantar.
O foco da indústria de pães nos próximos anos está em ampliar o investimento em pesquisa e em produtos ligados ao benefício à saúde, diz a executiva da Kantar. As principais tendências de consumo este ano, segundo a Abimapi, são receitas saudáveis ou orgânicas, produtos ‘premium’ e porções individuais. As principais fabricantes do país são Bimbo, Panco, Pandurata, Seven Boys e Wickbold, informa a consultoria Euromonitor.