por DCI
19/01/2016
O inverno de 2015 foi marcado por fortes chuvas e geadas no Sul, que quebraram a safra de trigo. Além de preços altos do cereal, os moinhos arcaram com novos gastos industriais e não conseguiram repassar o custo total para o consumidor em crise. Agora, o produtor desestimulado pode agravar a situação do setor.
Na média anual, enquanto a farinha para panificação teve um acréscimo de 10% no preço, o chamado trigo ‘pão’ subiu 33%. No caso das farinhas comuns – usadas para a produção de biscoitos e massas – houve aumento de 12%, contra o avanço de 27,7% no cereal de menor qualidade, correspondente a este tipo de moagem, segundo análise da consultoria Trigo & Farinhas.
“Somado ao incremento no valor da matéria-prima, tivemos um aumento brutal na energia elétrica, que os moinhos usam muito, nos fretes, impostos e salários. Não repassar todas as despesas deixou a indústria em uma situação muito ruim”, explica o analista sênior da consultoria, Luiz Carlos Pacheco.
O especialista lembra que cerca de cinco moinhos fecharam em decorrência deste cenário, que também quebrou mais de dez fábricas de biscoitos e massas pelo Brasil. A redução no poder de compra das famílias implica diretamente sobre a cadeia deste segundo tipo de produto, uma vez que bolachas, por exemplo, são vistas como alimentos supérfluos na dieta e as massas, teoricamente, não trazem a mesma sustentação que um prato composto por arroz e feijão.
Perdas na lavoura
No principal estado produtor do cereal, o Paraná, a colheita prevista em quatro milhões de toneladas só atingiu 3,45 milhões. Diante de um risco climático tão alto, o triticultor localizado entre o norte, nordeste e noroeste paranaense tem grande chance de apostar no milho safrinha para incrementar a renda anual da lavoura. O grão, além de ter mais liquidez de mercado, vive um momento de recordes de exportação, favorecida pelo dólar alto. Por esse movimento, o gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, projeta perdas de área de trigo entre 5% e 10% no plantio de 2016. No ano passado foram plantados 1,35 milhão de hectares.
“Já o sudoeste do Paraná não tem alternativa além dos cultivos de inverno. Então, nesse momento vemos que o produtor vai acabar plantando mesmo desestimulado”, diz Turra, que também é presidente da Câmara Setorial das Culturas de Inverno.
No Rio Grande do Sul, segundo estado produtor de trigo, nenhuma região tem a possibilidade de substituir o cereal por milho na segunda safra.
O presidente da Comissão de Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, conta que os triticultores conseguiram colher apenas 1,5 milhão de toneladas na última safra, ante uma expectativa de 2,7 milhões. Deste total, só 350 mil toneladas tem qualidade para panificação, categoria mais rentável da cadeia. “A tendência é de redução de área novamente, mas se fizermos isso a soja terá que pagar as contas do ano inteiro na lavoura, o que também é inviável”.
Neste contexto, a retração na demanda por farinha, que era de 25%, já está em 40%.