Falta de água e de energia afeta 30% das pequenas indústrias

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Falta de água e de energia afeta 30% das pequenas indústrias

Falta de água e de energia afeta 30% das pequenas indústrias

Segundo levantamento encomendado pelo Simpi, 39% dos 314 entrevistados acreditam que sua empresa será muito prejudicada em caso de piora na crise hídrica

por Fernanda Bompan (DCI)

25/02/2015

Cerca de um terço das micro e pequenas indústrias paulistas já tiveram problemas com a falta de água e de energia, revela pesquisa encomendada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi) ao Datafolha.

De acordo com o levantamento feito entre os meses de janeiro e fevereiro, 31% das empresas paulistas tiveram problemas com falta de água nos últimos 30 dias. Somente nos municípios da Grande São Paulo, incluindo a capital, 45% passaram por esta situação no período – 33% com grande frequência.

No caso da crise no fornecimento de energia, 32% apresentaram dificuldades. Na Região Metropolitana de São Paulo, incluindo a capital, 42% das empresas da categoria sofreram com o cenário.

“Os números são dramáticos. No ano passado, os problemas com água afetaram 6% dos entrevistados, e com energia, 18%. É um salto quantitativo e qualitativo na apuração, já que muitos apresentaram dificuldades com quebras de máquinas por conta desse ambiente. Além de que, para 39%, a empresa será muito prejudicada em caso de piora na crise hídrica. Ou seja, o quadro deve se aprofundar”, avaliou o presidente do sindicato, Joseph Couri.

Foram entrevistados 314 pessoas, entre proprietários ou sócios – em sua grande maioria (81%) – diretores ou gerentes, sendo 28% dos negócios com faturamento de mais de R$ 60 mil, 42% em atividade em até 10 anos e 31% na construção civil.

Sem alternativas

Couri ressaltou ainda que, apesar de 67% afirmarem que utilizam a energia como insumo, apenas 3% possui fonte alternativa para casos de interrupção no fornecimento. Nisto, 2% possuem geradores movidos por óleo diesel, sendo que em 1%, o gerador já vem sendo utilizado para gerar energia. “Isso significa perda de produtividade. Um terço relata que a falta de energia causou danos aos equipamentos. Para 43% das pequenas empresas, houve danos às máquinas”, justifica o presidente do Simpi.

Conforme a pesquisa, entre aqueles que tiveram problemas com falta de água, 40% afirmaram que isso causou impactos na produção, com 30% desse percentual relatando interrupção ou paralisação do trabalho de foram geral. Questionados sobre danos ao maquinário causados pela falta de água, apenas 2% dos dirigentes da categoria relataram prejuízos dessa natureza. Mas o índice sobe para 13% quando a questão é sobre perda de matéria prima devido ao mesmo problema.

Por outro lado, no geral, apenas 12% das empresas possuem fonte alternativa em caso de falta no abastecimento de água. As fontes mais citadas foram poço artesiano (3%), caminhão pipa (2%), caixa d’água (2%) e outros tipos de reservatório (2%).

No entanto, nos últimos meses, 67% dos entrevistados disseram que adotaram medidas para economizar água, com destaque para a captação da água da chuva para ser aproveitada em alguma tarefa (resposta de 21%), o combate ao desperdício de forma geral (12%), a adoção de limpeza a seco, sem uso do recurso (12%), a reutilização de forma geral (8%), a redução do uso de torneiras, descargas e banheiros (6%), entre outras opções.

Gastos

O levantamento mostrou também que em média, os gastos mensais com água representam 11% dos custos das micro e pequenas indústrias paulistas. Em 57% delas, porém, o gasto com o recurso representa até 5% dos custos por mês, enquanto em 10% representa de 6% a 10% dos custos; em 7%, de 11% a 20%; e em 13% delas, mais de 20% dos custos mensais – 12% não souberam indicar a proporção mensal gasta com água. Na comparação com janeiro de 2014, 31% tiveram aumento na conta, enquanto 23% tiveram diminuição, e em 39% houve estabilidade. Uma parcela de 7% não soube responder. O aumento médio na conta foi de 25%.

No caso dos dispêndios com energia, essa despesa representou, em média, 21% dos custos mensais das empresas consultadas pela Datafolha. Em 36% delas, esse gasto representa até 5% do custo mensal; em 15%, esse montante varia de 6% a 10%; para 13%, significa de 11% a 20%; e em 27% delas, os dispêndios com o insumo somam mais de 20% dos custos mensais. Uma parcela de 8% dos entrevistados não soube apontar o gasto na empresa.

Na comparação com janeiro de 2014, 59% das empresas tiveram aumento na conta de energia elétrica, enquanto 8% tiveram diminuição. Para uma parcela de 26%, a conta com o insumo ficou igual, e 8% não souberam indicar se houve ou não aumento nessa fatura. Entre as que tiveram aumento, o reajuste médio foi de 33%.

“Medidas restritivas”

O estudo também revelou que os representantes da micro e pequena indústria paulista projetam dificuldades com medidas adotadas recentemente pelo governo. A pior delas, na visão deles, será o retorno da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).

Para 86%, a volta do tributo sobre combustíveis trará impacto negativo nos custos, sendo que 64% esperam impacto muito negativo, e 22%, um pouco ruim. Em relação às vendas, 75% avaliam que a Cide será prejudicial, com 53% disso prevendo impacto muito negativo.

Ainda para 80% dos dirigentes da categoria, as recentes altas da taxa básica de juros, a Selic, anunciadas pelo Banco Central (BC) terão impacto negativos nos custos de sua empresa. Nas vendas, o aumento dos juros será ruim para 75%.

Outra medida anunciada pelo governo, o aumento de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações de crédito para pessoas físicas, trará impacto negativo nos custos de 58%. E o crescimento do PIS/Cofins sobre importações poderá prejudicar 50%.

No geral, essas medidas afetarão negativamente o lucro na opinião de 84% dos entrevistados. “A tendência é que o cenário piore já que a pesquisa mostra que as medidas restritivas devem prejudicar as indústrias como um todo, levando a um PIB [Produto Interno Bruto] negativo ao setor”, concluiu o presidente do sindicato.